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Greve geral na Argentina paralisa transporte público e deixa ruas vazias

Publicado em: 11/04/2014
Victor R. Caivano/AP)/ Polícia faz barreira contra manifestantes em Buenos Aires em dia de greve geral na Argentina

Victor R. Caivano/AP)/ Polícia faz barreira contra manifestantes em Buenos Aires em dia de greve geral na Argentina

A Argentina vive nesta quinta-feira (10) uma greve geral promovida por sindicatos de trabalhadores que paralisa o transporte público, provoca cancelamento de voos domésticos e internacionais, suspende serviços de coleta de lixo e de abastecimento, e deixa muita gente a pé. A Avenida Nove de Julho, uma das mais movimentadas do Centro de Buenos Aires, amanheceu vazia. Não funcionaram ônibus, metrô nem trens – a estação de trem Retiro ficou deserta. Empresas foram fechadas e muitos trabalhadores não saíram de casa.

“Mais de 1 milhão de trabalhadores cruzaram os braços”, contabilizou Juan Carlos Schmid, secretário-geral de um sindicato de trabalhadores do setor de dragagem. Segundo ele, a paralisação “é muito forte”. Já o chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, considerou o movimento “um grande piquetaço”, liderado por sindicalistas que fazem parte da oposição à presidente Cristina Kirchner.

Os grevistas dizem que o governo argentino subestima o movimento e ignora a realidade, na qual 35% dos trabalhadores do país não estão oficialmente registrados. Os sindicatos querem negociações salariais sem teto máximo, aumento para os aposentados, revogação do imposto aplicado aos salários e distribuição de fundos que o Estado deve aos prestadores de saúde dos sindicatos.

Pela manhã, piquetes feitos em vias de Buenos Aires terminaram em confronto entre manifestantes de esquerda e policiais que tentavam dispersá-los. Desde a madrugada, grupos mais radicais de esquerda formavam piquetes nas principais rotas de acesso à capital argentina.

Segundo o jornal “Clarín”, a rota Panamericana, que dá acesso a Buenos Aires, amanheceu bloqueada. Policiais foram para o local e houve confronto. Os policiais dispararam balas de borracha, enquanto alguns manifestantes responderam jogando pedras.

Confronto
Pelo menos uma pessoa foi detida na confusão. Segundo o jornal “La Nación”, pelo menos duas pessoas (um manifestante e um policial) ficaram feridas e foram socorridas. Após o momento de tensão, a situação se acalmou na região.

A greve geral desta quinta-feira começou com a interrupção das atividades nos postos de combustível e no transporte público, setor-chave para que a ação sindical tenha êxito em um país com 40 milhões de habitantes.

Em entrevista coletiva, o chefe de gabinete do governo argentino, Jorge Capitanich, afirmou que os organizadores da paralisação “pretendem sitiar os grandes centros urbanos com um grande piquete nacional”, em referência aos 40 cortes e bloqueios de vias estabelecidos em todo o país.

“Essa é uma antiga metodologia medieval. Na Idade Média, os senhores feudais impediam o acesso à população. Não há lugar para a barbárie nem para medidas que conspirem contra o livre direito de greve dos trabalhadores”, disse Capitanich à agência espanhola EFE.

“O direito à greve está consagrado na Constituição e seu uso me parece completamente legítimo”, argumentou o chefe de gabinete, acrescentando, no entanto, que “o que não se pode fazer é impedir o livre exercício desse direito”. “Há trabalhadores que não estão de acordo e não podem ir para seus lugares de trabalho”, criticou Capitanich.

Voos cancelados

A greve geral na Argentina também afetou voos domésticos e internacionais. A empresa aérea TAM, do grupo Latam Airlines, e a Gol tiveram que cancelar voos com destino ao país por causa do fechamento do aeroporto Jorge Newbery (Aeroparque), em Buenos Aires. Segundo a TAM, foram cancelados cinco voos, sendo dois que sairiam do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e três outros que fariam o caminho de volta, informou a agência Reuters.

Os voos da TAM que chegam e saem do aeroporto de Ezeiza, também em Buenos Aires, não foram prejudicados, assim como os da cidade de Rosário, informou a companhia aérea.
Já a Gol, que também realiza partidas diárias para a Argentina, informou que seis voos com destino e ponto de partida do Aeroparque foram afetados, mas que voos para Córdoba, Rosário e para o aeroporto de Ezeiza não foram afetados pela greve.

A Gol afirmou em nota que “não está medindo esforços para minimizar os impactos a seus clientes”, enquanto a TAM lamentou os transtornos e afirmou que “prestará toda a assistência necessária aos clientes”.

As companhias aéreas Aerolíneas Argentinas, Austral, LAN e outras empresas privadas interromperam suas operações nesta quinta-feira, confirmou o titular da Associação de Técnicos Aeronáuticos (APTA), Ricardo Cirielli, à rádio local Continental.

A chilena LAN, que conta com quase 30% do mercado doméstico argentino, “viu-se na obrigação de cancelar todos os voos dentro da Argentina e alguns internacionais devido à greve”, explicou a empresa.

Reivindicações
O protesto, ao qual aderiram sindicatos de transportes públicos e importantes associações de caminhoneiros e servidores, reivindica reajuste dos salários e redução dos altos impostos que incidem sobre a renda dos trabalhadores, após uma desvalorização do peso argentino de 35% em 12 meses.

Os principais portos argentinos, como os de Rosário e Formosa, permanecem sem atividades, pois o sindicato do setor também aderiu à greve. No restante do país, o movimento prejudica principalmente o transporte urbano, a coleta de lixo e os postos de gasolina. Em algumas províncias, como Córdoba, Santa Fé e San Juan, a paralisação do transporte também atingiu colégios e hospitais.

A greve afeta ainda a principal região agroexportadora do país, no momento em que a colheita de soja está no auge. A Argentina é o maior exportador mundial de óleo e farinha de soja e o terceiro de milho.

O secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Hugo Moyano, um dos organizadores da greve geral, disse que a presidente Cristina Kirchner se comporta com “orgulho” e pediu que ela ouça às queixas.

“A paralisação é para ratificar que haja articulações [negociações salariais] livres”, afirmou Moyano, que também pediu um aumento salarial “de emergência” aos aposentados e medidas governamentais para conter a crescente violência urbana.

Também líder dos caminhoneiros, o secretário-geral do CGT comanda um sindicato do qual dependem desde o transporte de jornais, combustíveis e valores até a coleta de lixo e a provisão de comida para companhias aéreas.

Uma das razões da greve é a reivindicação de uma atualização, em decorrência da inflação, do imposto incidente sobre os lucros que se aplica aos salários.

Inflação em alta
A Argentina sofre com uma das maiores taxas de inflação do mundo, enquanto a economia dá sinais de esgotamento após quase uma década de forte crescimento. A tabela salarial sobre a qual incide o imposto foi atualizada há alguns anos e acabou defasada por causa dos ajustes salariais em decorrência da elevada inflação, que supera os 30% ao ano. A tabela do imposto não se atualiza automaticamente em relação ao custo de vida, e depende somente da decisão da presidente.

O governo afirmou que o protesto tem motivos políticos, e não sindicais, ao acusar os sindicalistas de estar alinhados com o líder opositor Sergio Massa, um peronista que abandonou o governo e reúne as forças de oposição para concorrer às eleições presidenciais no fim de 2015.

A alta instabilidade social da Argentina, onde são frequentes os bloqueios de ruas e as manifestações, deve se intensificar durante a realização das negociações salariais anuais, que acabam de começar entre os sindicatos e as organizações patronais.

Fonte: G1

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