Secor Participa da 6ª Conferência da UNI Américas na Argentina
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E se a solução para a crise hídrica viesse do esgoto? Especialistas garantem ao Fantástico que a água de reúso pode ser a única alternativa para o problema do abastecimento.
O milagre dificilmente virá do céu. Só a chuva, como a que caiu nessa última semana na região Sudeste, não vai dar conta do colapso da água. A solução, dizem os especialistas, pode estar na água que a gente tenta a todo custo esconder e ignorar. Dentro dos tubos de esgoto corre a água que pode matar a nossa sede.
“A água deve ser julgada pela sua qualidade, não pelo seu histórico. Nós temos hoje a tecnologia para tratar água de qualquer esgoto e produzir água potável. Eu acho que a única alternativa para São Paulo é reúso”, explica o professor de hidrologia da USP Ivanildo Hespanhol.
Reusar a água nas grandes cidades pode ser a grande herança dessa crise. Olha o que querem fazer no Rio de Janeiro: O Rio Guandu abastece a Região Metropolitana do Rio de Janeiro. E possui uma estação de tratamento que a envia água para mais de 9 milhões de pessoas. O Fantástico sobrevoou o Rio Guandu, acompanhado pelo subsecretário estadual de Ambiente do Rio de Janeiro, Antônio da Hora, até chegar no Distrito Industrial de Santa Cruz.
As quatro principais empresas desse Distrito Industrial tem permissão do Estado para tirar do rio mil litros de água por segundo, através de canais. Mas como as empresas estão muito perto do mar, a água na região, fica salgada quando a vazão do rio está baixa. Para que isso não aconteça, é preciso liberar mais água das represas para o rio correr com mais força e empurrar o mar, impedindo que ele avance. Se essas quatro empresas retirassem a água de outro lugar, o rio não precisaria correr tão forte.
“Estaria se armazenando essa água para o uso futuro que poderia dar outros destinos”, explica o subsecretário estadual de Ambiente do Rio de Janeiro.
Segundo a Secretaria de Ambiente do Rio de Janeiro, se poderia economizar cerca de 11 mil litros de água por segundo. A proposta é que essas quatro empresas construam uma adutora de 14 quilômetros e passem a tirar a água de que precisam da Cedae, a Companhia de Águas e Esgoto do Estado do Rio, responsável por fornecer água para a população.
A Cedae passaria a vender água de reúso. A água que hoje é usada para limpar os filtros da tubulação e que é devolvida ao Rio Guandu, tratada, mas sem ser reaproveitada. E agora, com essa adutora, a vazão do Rio Guandu poderia ficar sempre no nível mais baixo.
Os especialistas calculam que a água que hoje é usada para lutar contra o mar poderia entrar no sistema e abastecer cerca de 3,5 milhões de pessoas.
Em uma visão aérea, parece que o Rio Guandu tem bastante água, mas as represas que o abastecem, na parte de cima, estão quase secas.
“A prioridade absoluta é o abastecimento humano”, afirma André Corrêa, secretário estadual de Ambiente do Rio de Janeiro.
Muitas cidades já reusam água
Existem muitas cidades do mundo que já reusam água. O Fantástico já mostrou isso. Las Vegas, nos Estados Unidos, construída no meio do deserto tem água abundante.
Mas nem é necessário ir tão longe: Búzios, Região dos Lagos, Rio de Janeiro. Para virar água de reúso, o esgoto existente na região passa por estações de tratamento equipadas com filtros especiais e membranas, que retiram todas as impurezas.
Em São Paulo, o professor Ivanildo Hespanhol é autoridade em reúso da água. Ele afirma que a gente já toma água de esgoto e nem se dá conta.
“Se você tomar o Rio Tietê, por exemplo, o Paraíba do Sul, é uma sequência de reúso não planejado e inconsciente”, conta o professor.
As cidades que ficam na beira de rios tiram água de lá, tratam para o consumo e devolvem como esgoto. Uma outra cidade faz a mesma coisa: tira a mesma água que já foi usada, trata e devolve como esgoto.
Reúso de forma planejada
O professor Ivanildo propõe que o reúso seja feito de forma planejada. Que é mais ou menos o que acontece em uma estação de tratamento, em São Paulo. Parte do esgoto tratado no local vira água de reúso. Para isso, a água passa primeiro por um filtro que tira as partes sólidas. E depois vai para um tanque de filtragem biológica. O sonho de uma bactéria seria morar dentro do tanque. Tudo foi pensado pra elas. Tem que tudo estar do jeito certo para que eles possam, simplesmente, comer o resto da sujeira que veio do esgoto, o dia inteiro. As bactérias passam por um processo de aeração antes de sair de cena.
Depois de passar por todo o processo, a água que era marrom, vai sair em uma torneira. Ela sai transparente com cara de água potável, sem cheiro nenhum. Mas essa água ainda não dá para beber.
“Aqui a planta foi feita para atender as indústrias. Mas ela pode ser modificada para atender o consumo potável.”, observa Marcos Asseburg, diretor presidente da Aquapolo.
A água tratada no local percorre 19 quilômetros em adutoras até chegar no polo petroquímico do ABC, onde indústrias usam água. O professor Ivanildo propõe que a água de reúso abasteça, daqui a um tempo, a nossa torneira.
Todo o esgoto seria transformado em água potável e isso, ainda por cima, despoluiria os rios de São Paulo.
“Eu vejo que os rios de uma cidade como São Paulo deveriam ser uma amenidade, integrados em parques, jardins, centros de áreas de lazer etc.”, alerta Ivanildo,
A quantidade de esgoto que corre hoje, por baixo da terra, seria suficiente para abastecer mais de 5 milhões de pessoas.
Mas eu vou beber água de esgoto? É a primeira reação de um desavisado. Os especialistas dizem que se essa crise vai ter um legado, é nos fazer ver as coisas de um outro jeito.
Fonte: G1
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