Quinta-Feira, 28 de Março de 2024 -

Ato em São Paulo denunciará abusos da JBS-Friboi

Publicado em: 14/09/2015
Érica Aragão

Érica Aragão

Por trás de marcas como Friboi e Seara há histórias de produtores rurais endividados e trabalhadores multilados em nome do lucro da multinacional brasileira JBS, maior produtora de carnes do mundo e primeira em faturamento do Brasil.

Para denunciar os abusos que a empresa pratica, no dia 13 de outubro, a partir das 14 horas, produtores, empregados da JBS-Friboi e representantes da CUT e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocuparão a Avenida Paulista para revelar um cenário que envolve até mesmo suicídio de agricultores incapazes de pagar as contas por não receberem o suficiente para custear a produção.

“A JBS é uma das piores empresas da indústria da alimentação para se tratar e esse ato será uma forma de pressionar os patrões a estabelecerem uma mesa de negociação tanto com os trabalhadores quanto com os produtores. O que temos é um monopólio em que a companhia dita as regras, demite e desfaz contratos com quem não se submete às condições precárias”, critica o presidente da Contac (Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação), Siderlei Oliveira.

A relação entre trabalhadores, fornecedores e a JBS-Friboi já rendeu uma ação civil do Ministério Público do Trabalho de Criciúma (MPT) para assegurar direitos trabalhistas e revisar o contrato com o frigorífico, chamado de integração.

A “parceria” com o fornecedor determina que o produtor seja responsável por criar e cuidar das aves para a empresa, sem que o vínculo trabalhista seja reconhecido.

Para piorar, os agricultores recebem uma média entre R$ 0,30 e R$ 0,40 por ave, apesar de um estudo realizado pela Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinense) comprovar que o preço de produção do frango é de R$ 1,41.

Recentemente, no Paraná, o MPT também processou a JBS-Friboi em R$ 73 milhões por danos morais coletivos em decorrência de irregularidades como desrespeito às jornadas de trabalho, falta de depósito de FGTS e de pagamento de férias.

Em 2014, segundo dados divulgados pela própria empresa, a receita líquida foi de R$ 120,5 bilhões, 30% a mais em relação a 2013.

“A JBS recebeu R$ 8 bilhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para responder com desemprego, fechamento de unidades, achatamento de salários e piora nas condições de trabalho por onde passa”, ressalta o Secretário de Saúde da Contac, Célio Elias.

O custo de uma vida

O agricultor Emir Teeza, da região de Criciúma (SC), onde há 783 produtores que dependem da JBS-Friboi, aponta que as famílias se tornam reféns da empresa por conta das dívidas adquiridas por meio de empréstimos impossíveis de serem pagos, porque não recebem sequer o valor equivalente ao custo da produção. Segundo ele, a companhia cobra investimento para aumentar a produção, mas negocia o pagamento num parâmetro em que o custo é a vida.

“Na região da Criciúma foram dois casos de suicídio por conta do endividamento. Só temos de cumprir ordens e obedecer o que eles impõem. Inclusive, somos alertados para não falar mal da empresa, senão sofremos retaliações e corremos o risco de termos o contrato suspenso. E muitos seguem isso, porque há um monopólio na região e fica difícil vender para outras empresas”, explicou o também presidente da Associação dos Avicultores do Sul Catarinense.

Teeza alega ter sido obrigado a fechar o frigorífico por dificuldades econômicas impostas pela empresa e agora comercializa ovos com outros fornecedores.

A dívida do avicultor João Amaral, presidente da Associação de Avicultores Parceiros Integrados do Vale da Produção já atinge os R$ 200 mil. E essa é uma das menores. Produtor de Ipumirim, no oeste catarinense, foi outro dos excluídos da lista de fornecedores.

“Fui cortado porque busquei ajuda com associações e sindicatos. Com o aviário fechado, sem ter para quem fornecer, ainda estou tentando encontrar uma forma de pagar meus custos”, explica.

A situação caótica com a qual convivem os agricultores se repete também na parte operacional, denuncia o analista de suporte da JBS-Friboi em Alta Floresta, norte de Mato Grosso.

“Temos trabalhadores mutilados, com doenças oriundas de origem animal, como brucelose, por exemplo, porque o fornecimento de EPIs (equipamentos de proteção individual) é precário, há máquinas sem segurança operacional nenhuma e a pressão para produzir cada vez mais é imensa”, falou.

Uma situação que não é exclusiva da JBS-Friboi, mas parece se alastrar por todo o setor frigorífico, conforme relata o presidente da Associação de Agricultores de Dois Vizinhos, no Paraná, Luiz Bez.

Segundo ele, que vende frangos para a BR Foods e já acumula uma dívida de R$ 350 mil, o custo da produção gira em torno de R$ 0,35, mas a empresa compra por R$ 0,34, em média. Um valor que não aparece nas propagandas com atores famosos e trabalhadores sorridentes, cenário muito distante da realidade no interior do país.

“Os aviários estão todos sucateados e tenho que investir nas roças de soja e milho para pagar as contas. A resposta dessas empresas é sempre na base do assédio. De março para cá não chamaram mais para negociar o valor pela compra das aves porque souberam que estamos nos organizando”, explicou.

Para a representante da direção estadual do MST, Simone Santos, a responsabilidade de combater essa realidade é de todos, desde o consumidor até os movimentos, que precisam dar visibilidade ao rolo compressor de empresas como a JBS-Friboi.

“O MST não se organiza só na conquista da terra, por reforma agrária, mas nas pautas que atingem todos os trabalhadores em defesa de melhores condições de trabalho, renda e vida no campo. Por isso, essa luta também é nossa”, definiu.

Fonte: CUT Nacional

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