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Brasil sofre com depressão e ansiedade

Publicado em: 10/10/2016
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Divulgação

Os brasileiros, assim como boa parte do resto da população mundial, estão vivendo mais, mas não necessariamente melhor. É o que mostra outra leva de estudos da série “Fardo Global das Doenças”, publicada na edição desta semana da prestigiada revista médica “The Lancet”. Segundo o levantamento, desordens mentais, como depressão e ansiedade, estão entre as principais condições de saúde não fatais que levam os brasileiros a conviver cada vez mais anos com algum tipo de incapacitação. E estes problemas praticamente não fazem distinção de faixa etária, com ansiedade e depressão já aparecendo entre crianças e jovens entre cinco e 14 anos como quarta e oitava causa de alguma incapacitação, respectivamente, e se mantendo entre as dez mais até os 69 anos, quando a ansiedade cai para a 13ª posição nas pessoas com mais de 70.

— O mundo está vendo uma redução na perda de saúde devido a doenças comunicáveis, como HIV/Aids, malária, pneumonia, diarreia e sarampo, mas também um pernicioso aumento nas doenças não comunicáveis, especialmente diabetes, degeneração das articulações, uso de drogas e depressão — comenta Nicholas Kassebaum, professor do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, EUA, onde cientistas desenvolveram metodologia para contabilizar e fazer estimativas sobre diversos aspectos da saúde global, e líder de um dos seis estudos publicados na “The Lancet”. — Estas tendências têm implicações maciças para os sistemas de saúde. Sem a prevenção e os tratamentos devidos, essas doenças não comunicáveis vão se tornar um fardo cada vez maior nos próximos anos em vários países, a despeito de sua posição no ranking do índice de desenvolvimento sociodemográfico.

Vida total X vida saudável

E esta situação se reflete justamente em outro indicador desenvolvido pelo IHME, que mede a expectativa de vida saudável de cada país, num contraponto à usual expectativa de vida total normalmente divulgada pelos institutos de estatísticas nacionais. No Brasil, por exemplo, a expectativa de vida saudável projetada para as mulheres nascidas em 2015 é de 67,38 anos, mais de uma década inferior à expectativa de vida total calculada para elas, 78,21 anos. Já para os brasileiros do sexo masculino nascidos no ano passado, a expectativa de vida saudável fica em 62,35 anos, cerca de oito anos a menos que a expectativa de vida total, de 70,72 anos.

Ainda de acordo com as estimativas feitas pelo IHME, fruto de uma colaboração de mais de 1,8 mil cientistas em quase 130 países, o Brasil registrou aproximadamente 1,35 milhão de mortes no ano passado, tendo como principais causas doenças coronarianas, derrames, problemas respiratórios e diabetes, num ranking bem parecido com o visto na estatística global Este resultado é reflexo também da pouca atenção dos governos, e da população mundial, na prevenção e combate a fatores de risco administráveis e modificáveis destas doenças, tanto que os estudos indicam que cerca de 70% das mortes estão ligadas a eles. Segundo o levantamento, entre os brasileiros lideram estes fatores a hipertensão; nível de glicose alto em jejum, situação pré-diabética; tabagismo; alto índice de massa corporal, ou seja, sobrepeso ou obesidade; altas taxas de colesterol; excesso no consumo de sódio (sal) e álcool; dieta pobre em grãos integrais; e pouca atividade física, o sedentarismo.

Aqui, no entanto, a violência interpessoal também tem um grande peso na estatística. De acordo com a pesquisa, só em 2015 foram mais de 61 mil vítimas no Brasil, o maior número absoluto de mortes por atos violentos estimado para o ano em todo mundo, excluindo países em guerra. Já quando se leva em conta a taxa de mortes por violência a cada 100 mil habitantes, a situação do Brasil melhora, mas não muito: ela ficou em 29,46 no ano passado, o suficiente para colocar o país na 10ª posição, atrás de nações como Afeganistão (29,76), Colômbia (35,57), África do Sul (38,14), Venezuela (45,83) e o líder El Salvador, com 60,29.

Já em nível global, o levantamento aponta uma significativa alta na expectativa de vida média de homens e mulheres entre 1980 e 2015, período em que passou de cerca de 62 anos para quase 72 anos. Segundo os pesquisadores, porém, esta evolução foi muito desigual entre os 195 países avaliados, assim como em alguns parâmetros que têm forte influência nestes resultados. A mortalidade de crianças com menos de cinco anos em todo mundo, por exemplo, caiu em mais da metade desde 1990, resultado de esforços principalmente em países da África Subsaariana e do Sul da Ásia, onde o problema é mais grave. Por outro lado, nações como os EUA estão tendo resultados piores do que os esperados diante de seu nível de desenvolvimento socioeconômico e mesmo regredindo em alguns pontos.

— O desenvolvimento guia, mas sozinho não determina a saúde — resume Christopher Murray, diretor do IHME. — Vemos países que melhoraram muito mais rápido do que pode ser explicado pela renda, educação ou fertilidade. Mas também vemos países, incluindo os EUA, que estão muito menos saudáveis do que deveriam dados seus recursos.

Fonte: O Globo

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