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Com Bolsonaro poder de compra dos pobres e dos trabalhadores despenca

Publicado em: 19/03/2021

Nos dois primeiros anos do seu governo, Jair Bolsonaro (ex-PSL) não decepcionou os ricos que o elegeram: protegeu o patrimônio e a renda de quem tem muito dinheiro e sufocou os mais pobres e os trabalhadores e trabalhadoras, que vivem de bicos e salários.

Os dados econômicos são a prova disso. Entre o início de 2021 e o mesmo período em 2019 , dois primeiros anos da gestão Bolsonaro, o preço da cesta básica de alimentos subiu 32,56%, na capital de São Paulo.  O presidente já disse várias vezes que não entenda e de economia, não deve entender nada também sobre as necessidades do povo brasileiro.

Em 2003, apesar de ter encontrado o país endividado e com uma inflação de 12,53%, Lula conseguiu derrubar o índice para 7,60%  e a cesta básica subiu em dois anos de seu governo 8,49% . Com Dilma, aconteceu o mesmo. Nos seus dois primeiros anos de mandato, a cesta subiu 18,02%, índices bem abaixo do atual governo.

Mesmo antes de Lula conseguir aprovar a política de valorização do salário mínimo, iniciada em 2004, o trabalhador que ganhava o piso da época conseguia comprar uma cesta básica e meia (1,51). Já com Dilma, com os reajustes do mínimo acima da inflação, o trabalhador levava para casa quase duas cestas e meia (2,41), apesar do índice inflacionário ter sido maior do que o mesmo período de Lula.

Com Bolsonaro, que acabou com a política de valorização do mínimo, se compararmos os dois primeiros anos, quando o piso chegou a R$ 1.045,00, o trabalhador só conseguiu comprar pouco mais de uma cesta e meia (1,61).

No último levantamento feito pelo UOL, já com o salário atual de R$ 1.100, o brasileiro gasta em média mais da metade (54,23%) do salário mínimo líquido para comprar a cesta básica. Na cidade de São Paulo, que detém o segundo maior preço pelo conjunto de produtos, o percentual de comprometimento da renda chega a 62,85%.

Qual é a causa da carestia

A carestia sentida pela população pobre não pode ser apenas creditada à pandemia do novo coronavírus, explica a supervisora da área de preços do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que analisa o Índice de Custo de Vida (IVC), Patrícia Costa. De acordo com ela, o desmonte das políticas públicas e os privilégios concedidos ao agronegócio.

Nos governos anteriores, diz, havia políticas públicas responsáveis pela abertura de vagas de trabalho e, consequentemente, aumentou o consumo da população e da inflação, mas ainda assim o poder de compra do trabalhador era preservado.

”O que chama a atenção no atual aumento de preços e na queda do poder de compra da população, é que são resultados do desmonte explícito de políticas públicas, que garantiam preços acessíveis dos alimentos e reajustes salariais acima da inflação para o trabalhador. Hoje o interesse é o lucro do agronegócio”, diz Patrícia.

Ainda de acordo com a supervisora do Dieese, antes, pelo menos, havia esperança e a possibilidade do governo fazer ações de desenvolvimento e inclusão, o que não ocorre agora.

“Numa situação de desmonte, a crise recai sobre os ombros de quem ganha menos”, afirma.

Inflação é mais sentida pelos pobres

Desde o início da pandemia, em março do ano passado até fevereiro deste ano, a inflação sentida pelas famílias brasileiras mais pobres foi de 6,75%. Essa taxa representa o dobro do impacto para as famílias mais ricas, de 3,43% no mesmo período, segundo os dados do indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de inflação por faixa de renda.

O vilão da inflação maior para essas famílias, que ganham menos do que R$ 1.650,50,  são os preços dos alimentos que consomem em média 25% do seu orçamento. Já os mais ricos, com renda superior a R$ 16.509,66 gastam menos de 10% dos seus orçamentos na compra da alimentação.

Carne: exemplo da queda do poder de compra com Bolsonaro

De acordo com o Dieese, em uma reportagem de 2011, no portal G1, ao analisar a evolução do salário mínimo, por exemplo, em 1959, se todo o valor fosse destinado à compra de carne, seriam adquiridos 85 kg do produto na capital de São Paulo; já em 1995, todo o mínimo conseguiria adquirir apenas 21 kg; e, em 2009, 37 kg, exemplificou à época o instituto, demonstrando que a política de valorização do salário mínimo já surtia efeito.

Mas, se continuarmos a comparação do valor de hoje do mínimo (R$ 1.100) em relação ao preço de R$ 40,00, de um quilo de carne de segunda, em um supermercado da zona oeste da capital paulista, o trabalhador levaria para a casa 27,5 kg – uma redução de 10 kg, em relação a 2009. Se compararmos preços da carne de primeira, que variam acima de R$ 50,00, a queda seria ainda maior.

Os altos e baixos da correção do salário mínimo

A evolução dos valores do mínimo é dividida pelo Dieese em oito fases: 1940-1945, fixação do mínimo; 1946-1951, rebaixamento do salário; 1952-1959, período com ganhos reais e significativos; 1960-1964, período razoável com inflação provocando efeito redutor dos ganhos; 1965-1975, arrocho em razão da ditadura  militar com perseguição a ações sindicais; 1976-1982, leve reação com reajustes semestrais; 1983-1994, nova corrosão com aceleração inflacionária e planos econômicos fracassados; e 1995 em diante, com a retomada da valorização do salário mínimo.

 Fonte: CUT/Foto: ROBERTO PARIZOTTI

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