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Abismo entre homens e mulheres é maior dentro de casa

Publicado em: 05/04/2016

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Os afazeres domésticos ainda são uma tarefa feminina no Brasil e, ao contrário do que se pensa, a participação masculina nestes serviços não evoluiu muito nos últimos anos. A pesquisa Mulheres e trabalho: breve análise do período 2004-2014 mostra que o percentual de homens que assume tarefas não remuneradas da casa cresceu pouco – de 46% para 51% em uma década. Já o das mulheres segue inalterado. Em 2014, era de 90%.

O tempo gasto com esses afazeres é outro dado importante para retratar a desigualdade entre os gêneros. Nos 10 anos analisados pela pesquisa, as mulheres aumentaram a presença no mercado de trabalho, mas reduziram pouco o tempo gasto com a casa, que passou de 27,1 horas semanais para 25,3 horas semanais. Já em relação aos homens esse número se manteve inalterado: 10,9 horas semanais, menos da metade da dedicação feminina. Ou seja, a divisão de tarefas continua desigual.

Outro dado interessante sobre os afazeres domésticos é que a divisão de tarefas independe da raça e da classe social. Ao contrário do que acontece quando são analisados os dados de precarização, por exemplo, em que as mulheres negras e pobres sofrem mais do que as brancas de classe média, dentro de casa o único fator de desigualdade é o fato de ser homem ou mulher.

“Isso nos mostra algo muito importante. Que quando tratamos de diferenças entre homens e mulheres precisamos considerar não apenas o mercado de trabalho, mas sim o mundo do trabalho, que envolve o mercado, a casa e os filhos. São nesses últimos itens que a diferença é mais gritante”, analisa a coordenadora do Núcleo de Gênero do Ministério do Trabalho e Previdência Social, Rosane da Silva.

Quanto mais responsabilidade, maior a sobrecarga – O abismo é tão grande que as mulheres ativas no mercado de trabalho – ou seja, que exercem alguma atividade remunerada – chegam a dedicar quase o dobro do tempo aos afazeres domésticos na comparação com os homens inativos (que estão fora do mercado de trabalho remunerado). A diferença é de 21,7 horas semanais para elas contra 13,7 horas semanais para eles.

Outro dado curioso é que quanto maior o número de filhos, maior é o tempo que as mulheres se dedicam, e menor é a participação dos homens. Em famílias com cinco filhos ou mais, elas gastam 32,5 horas semanais com a casa, enquanto eles usam apenas 9,7 horas semanais.

E a pesquisa mostra ainda que cuidar da casa não está diretamente ligado a poder ou a dinheiro. Nas moradias onde o homem é o chefe da família, as mulheres dedicam 28,7 horas semanais ao lar contra 11,5 horas do cônjuge. Quando a situação se inverte, e a mulher vira chefe, o trabalho dela continua maior. Passa para 25,3 horas semanais, enquanto as do homem caem para 10,1 horas.

Ou seja, independentemente de qual seja o cenário, as mulheres estão sempre em um patamar mais elevado do que os homens se consideradas as duas jornadas, o que acaba as deixando também mais vulneráveis no mercado, como exemplifica a técnica de acessibilidade, Cristiane Freitas, 43 anos. Mãe de quatro filhos (três meninas e um menino), ela lembra das dificuldades enfrentadas com os três primeiros, já que o antigo marido não ajudava nem com os afazeres domésticos nem com as crianças.

“Cada vez que havia reunião na escola ou algum deles ficava doente era eu quem faltava ao trabalho. Fazia de tudo para compensar: me oferecia para trabalhar em feriados e finais de semana porque estava sempre com medo de perder o emprego por ter que cuidar dos filhos.”

O quarto filho de Cristiane, uma menina, veio com o segundo casamento, bem diferente do anterior. “Hoje todas as nossas tarefas em casa e com a escola são divididas. Isso faz com que meu tempo em casa tenha mais qualidade e eu sinta mais segurança também para cuidar do lado profissional”, compara.

Compartilhamento de responsabilidade – Para Eleuza de Cássia Bufelli Macari, da Executiva Nacional da União Geral dos Trabalhadores (UGT), as desigualdades em casa existem porque homens e mulheres participam igualmente no sustento da família, mas não compartilham as responsabilidades com os afazeres domésticos e os filhos. “Essas crianças que têm uma mãe cuidando do que elas vão comer ou vestir também têm um pai. E ele precisa dedicar tempo a elas, não importa quantas horas eles ficam fora de casa.”

A sindicalista não vê outra saída, no momento, que não seja remunerar essas atividades e incluí-las nos cálculos para aposentadoria. “Parto do seguinte raciocínio: os afazeres domésticos e cuidados com os filhos são essenciais para a vida em sociedade, mas são invisíveis para as pessoas. Nós precisamos reconhecer essas tarefas como essenciais e não vejo, no momento, outra maneira melhor de fazer isso do que remunerando.”

Fonte: MTE

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