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Negros sentem falta de modelos na TV para autoimagem positiva

Publicado em: 24/08/2011

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A ausência ou a esteriotipagem de personagens negros na mídia insere uma forma de discriminação sobre a população de telespectadores negros. Contudo, a discussão envolvendo a participação de negros em telenovelas não deve girar apenas em torno de uma dimensão estatística, sobre cotas, mas sobre a questão da qualidade desta visibilidade. É o que sugere pesquisa sociológica de Igor Bergamo, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

De acordo com o pesquisador, os produtos midiáticos como as telenovelas representam o apagamento do negro na cultura brasileira, pois em muitos casos propagam o discurso da mestiçagem sem conflitos e reproduzem de forma caricatural o estereótipo do negro sem origem e sem família, do invisibilizado socialmente, privando-o de sua humanidade.

O pesquisador chama essa ausência de identificação negros de “injustiça simbólica”, pois se trata da carência de modelos que contribuem para a construção de uma auto-imagem positiva e suficientemente forte para resistir ao embates gestados pelo preconceito racial – tão presente em nossa sociedade, apesar de muitas vezes camuflado -, explica.

Segundo Bergamo, a inserção da imagem dos negros na mesma proporção dos brancos nos produtos midiáticos televisivos é uma questão antiga na pauta de reivindicações do movimento negro. Tal inserção é vista pelo movimento como um mecanismo legítimo de desconstrução dos estereótipos presentes nas formas de representação dos negros no imaginário social da população brasileira.

Mídia e movimentos de ações afirmativas

No meio televisivo brasileiro, a primeira ação afirmativa pró-negro surgiu em 1984, quando a atriz Zezé Motta criou o Centro Brasileiro de Documentação e Informação do Artista Negro (Cidan). O objetivo era promover atores e modelos negros e assim responder às justificativas dos autores e diretores de novelas, que alegavam não oferecer oportunidades de trabalho a artistas negros por estes não estarem disponibilizados no mercado de forma qualificada.

Segundo Bergamo, o diálogo do Governo Federal brasileiro com o movimento negro foi estreitado a partir da Terceira Conferência Mundial Contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância, realizada em Durban, Africa do Sul, em 2001. Tal conferência exigia que os países apresentassem propostas para combater o racismo interno.

No quadro de propostas brasileiras a serem apresentadas estava o Estatuto Social da Igualdade Racial. Sancionado em julho de 2010, o documento busca proteger os que sofrem preconceito ou discriminação racial em função de sua etnia, raça e/ou cor, e objetiva a regulação de políticas afirmativas para indivíduos que estão em condições desfavoráveis de competição. É pautado por ações como indenizações, reserva de cotas e iniciativas que reforçam a criminalização da discriminação. No campo da mídia, o Estatuto, dentre outras disposições, propõem a criação de cotas para negros nos produtos midiáticos como peças publicitárias, programas de televisão, cinema e telenovelas.

De acordo com a análise de Bergamo, o Estatuto prioriza a dimensão puramente estatística, relativa à inserção de negros na mídia, não havendo nele disposição acerca de sobre como deve ser a inserção dos negros em tais espaços. Assim, tal documento “não questiona o fato de serem mantidos os velhos padrões estereotipados que sempre caracterizaram a participação de negros em telenovelas”, afirma. O trabalho foi apresentado no XV Congresso Brasileiro de Sociologia, ocorrido em Curitiba (PR), em julho.

Fonte: Com Ciência

Postado por assessoria de imprensa/Raquel Duarte

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