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No rumo do primeiro escalão

Publicado em: 12/03/2014
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Qualificadas e com mais anos de estudo do que os homens, as mulheres serão absorvidas pela demanda do mercado. “Pelo crescimento projetado para o País nos próximos anos, vamos passar por uma escassez de mão de obra de serviços qualificados. Será uma transição importante para as mulheres. Hoje há mais delas em universidades e cursos de pós-graduação. Ao mesmo tempo, em algumas famílias as atividades domésticas e o cuidado com os filhos já são compartilhados com os homens. Isso também é uma tendência”, avalia Carla Bellangero, hoje sócia da auditoria KPMG e líder do KNOW (KPMG’s Network of Women), grupo de líderes que reúne 48 sócias e diretoras.

O grupo foi criado há quatro anos para valorizar a atuação e a integração da mulher à empresa. O objetivo era perseguir a estratégia internacional da KPMG – aumentar a presença feminina no nível de liderança. O principal problema era que elas não chegavam o topo porque desistiam da carreira. “Quando avançavam desistiam, escolhiam outros rumos ou até mesmo um trabalho diferente, no qual pudessem conciliar a vida pessoal e profissional. O problema é que, quando voltavam, tinham perdido o ritmo e se frustravam. Para a empresa era ruim perder uma profissional na qual tinha investido”, conta Carla.

Há duas décadas uma mulher que alcançasse um cargo de diretoria ou presidência de uma organização não sentaria para redividir as tarefas e responsabilidades familiares com o parceiro com a mesma naturalidade que pode ter hoje. Mais ou menos nesse tempo, há 24 anos, Carla era trainee e conta que não havia nenhuma mulher na liderança da KPMG na qual pudesse se espelhar. “Lembro que era preciso quase se vestir como homem para ser reconhecida. Ninguém pensava se eu estava bem ou não e eu tinha de provar que realmente poderia estar lá. Superei obstáculos para deixar de ser trainee e ser sócia da firma. Consegui porque sempre tive muita paixão pelo meu trabalho”, conta Carla, que tem uma filha e um filho, com 20 e 13 anos respectivamente. Hoje, a executiva é referência para as trainees contratadas pela empresa, que têm o suporte do KNOW, que as incentiva a prosseguir na carreira profissional. “Também temos o objetivo de apoiar a mulher no mercado de trabalho de forma geral”, diz. Na entrevista a seguir – que marca o Dia Internacional da Mulher, comemorado no sábado – ela fala sobre os principais obstáculos enfrentados pelas mulheres e o que ainda falta melhorar da parte dos CEOs em relação a isso.

Diário do Comércio – A baixa participação das mulheres no alto escalão das organizações é um problema global ou brasileiro?

Carla Bellangero – É um problema ainda global. A estimativa é que o percentual de CEOs (Chief Executive Officer) no mundo seja de apenas 4%. E o de diretoras oscile de 10% a 15%. No entanto, isso muda conforme a região. Na liderança da KPMG de Portugal, por exemplo, 50% são mulheres. Na América do Sul percebe-se uma cultura ainda machista, mas acredito que passamos por um período de transição e de mudança cultural. No Brasil já atingimos a meta de 50% de mulheres no cargo de trainee. Sócias e diretoras somam participação de 25%.

DC – Qual é a postura dos CEOs em relação à maior participação da mulher no alto escalão?

CB – Muitos acreditam que a igualdade de gênero traz benefícios à empresa e dizem que gostam de trabalhar com mulheres. Os CEOs, de forma geral, têm essa visão mas precisam colocar o tema na agenda do dia a dia e trabalhar o assunto na prática. Há detalhes para os quais ainda falta atenção, como a inclusão de uma cláusula de maternidade no contrato de CEOs mulheres. Tenho uma amiga que ficou com receio de pedir à empresa para colocar no contrato, mas quando perguntou, foi atendida. No final, a cláusula não existia porque ela era a primeira mulher CEO daquela empresa. Ter um grupo de mulheres que discutem o papel da mulher na corporação ajuda. O grupo é importante porque cada situação de negócio é uma. A política de maternidade é boa para nossa empresa, não pode não ser para outra.
Na KPMG tivemos apoio do chairman para fazer isso.

DC – Conciliar maternidade e carreira ainda é o principal dilema da mulher?

CB – Sim. Por isso, trabalhamos para que ela não desista dos sonhos profissionais quando chega à maternidade. Esse ainda é o principal motivo que faz a mulher desistir da carreira de consultoria e auditoria. Ainda vejo profissionais brilhantes fazendo isso. Quem assume as responsabilidades da casa é a mulher e se ela tiver um cargo alto terá de estar à disposição da companhia a qualquer hora. Ela precisa buscar esse equilíbrio, mas acredito que a tendência é de melhorar porque hoje se fala muito em qualidade de vida e a sociedade está amadurecendo. A mulher precisa amadurecer para lidar com esse papel. E o homem não deve se sentir diminuído porque a parceira está se destacando no mercado de trabalho.

DC – Como o KNOW ajuda homens e mulheres, em prol da igualdade de gênero, dentro da empresa?

CB – Hoje, 10% da sociedade da KPMG é formada por mulheres e 90% por homens. Acompanhamos esses líderes, que fazem a gestão das mulheres, para que tenham habilidade. E isso não significa só interagir com elas, mas também com os líderes delas para fazer com que tenham visão e tirem melhores resultados da participação delas. Para as mulheres, recomendamos que façam mais networking, pois acabam fazendo menos. Os homens costumam fazer isso depois do expediente, ao marcar um chope. Para as mulheres isso é mais difícil porque, se fizerem da mesma forma, ficarão pensando nos filhos. Por isso, recomendamos que marquem um café da manhã ou um almoço. O importante é que ela não deixe de fazer networking. Não acho que a mulher tenha de ter privilégios, e sim igualdade.

DC – Quando você fala que passamos por uma transição, isso está relacionado a uma mudança de comportamento por parte dos CEOs?

CB – Sim, porque passamos por um momento realmente de transição, no qual os comportamentos corporativos são influenciados por comportamentos individuais. Muitos CEOs, quando formarem filhas para o mercado de trabalho, vão pensar diferente. Um líder que vê como a filha se dedicou e se esforçou para entrar no mercado de trabalho vai pensar diferente. Então, o que posso dizer da transição é que as mulheres devem se preparar para o momento de oportunidades.

Fonte: Diário do Comércio

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