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Nossa água: São Paulo precisa mais do que chuva para sair da crise da água

Publicado em: 02/12/2014
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O volume de água do sistema Cantareira, em São Paulo, atingiu nesta terça-feira (25) 9,3% já contando a segunda reserva do volume morto. É mais um recorde negativo, batido no período de estiagem mais longo de que se tem notícia na Região Metropolitana.

Em um lugar onde tudo é gigantesco, a surpresa também foi das grandes: em 2014, a região metropolitana onde vive um de cada dez brasileiros e que produz quase 20% da riqueza do país se descobriu pobre de um recurso elementar.

A seca levou os mananciais geridos pela Sabesp, empresa controlada pelo governo do estado de São Paulo, aos níveis mais críticos da história.

São cenários assustadores. Áreas enormes. Muitos quilômetros quadrados que sempre estiveram debaixo d’água, de repente, expostos. Em um ponto, tudo, absolutamente tudo que está abaixo da linha das árvores, inclusive uma ilha que se formou no meio. A questão que se coloca é: qual a capacidade de recuperação do Sistema Cantareira e de outros reservatórios que foram usados em maior intensidade para diminuir a sangria. A Sabesp fala em dois anos, com chuvas dentro da média já a partir dos próximos meses. Mas e se elas não vierem?

“Nós teremos que avaliar novas medidas, de forma até mais drástica, reduzindo de fato a entrega de água para população”, diz Marco Antonio Lopes Barros, superintendente de produção de água da Sabesp.

Padrão de abastecimento anterior nunca será retomado

Por enquanto, o fornecimento de água, que foi de 70 metros cúbicos, ou 70 mil litros de água por segundo, até o ano passado, já foi reduzido para 58 metros cúbicos. Segundo a Sabesp, isso foi possível pela economia dos consumidores, incentivada por descontos nas contas, e por manobras como a interligação de reservatórios e a diminuição de pressão nas redes, que reduz perdas por vazamentos nas tubulações.

As chuvas trarão alívio, sem dúvida. Mas já foi anunciado que o padrão de abastecimento anterior à crise nunca será retomado. A redução veio para ficar. O que para algumas regiões significa ter que se adaptar a uma nova realidade. Que incomoda muita gente.

Quem não tem caixa, para acumular água durante o dia, corre atrás de uma. Mesmo sem ter lugar adequado para instalar.

“Estou colocando a caixa dentro do meu quarto com água, a minha esposa desce a escada pega a água para esquentar no fogão para poder tomar banho”, diz o morador Jonatan da Silva.

A Sabesp só admite problemas pontuais. “A falta d’água, reclamada, pelos clientes, isso não é provocado pela gestão necessariamente. Isso é uma situação que nós temos que ajustar dentro da operação para evitar que isso aconteça”, diz Marco Antonio Lopes.

E o novo comportamento do consumidor? Será mantido?

“Essa questão da economia eu imagino que já deva estar na cabeça de todo mundo. Quer dizer, hoje, se não fizer economia, nós vamos ter um problema enorme no ano que vem”, afirma Benedito Braga, presidente do Conselho Mundial da Água e professor titular da Poli/USP.

São Paulo terá mesmo que buscar água cada vez mais longe

Pensando no futuro, além de economia e chuva, São Paulo precisa de obras. Para as maiores, o governo já pediu ajuda de quase R$ 4 bilhões aos cofres federais.

Os projetos para aumentar a oferta de água incluem estações de produção de água de reuso a partir de esgoto, previstas para o fim do ano que vem; interligação do Sistema Cantareira com a bacia do Rio Paraíba do Sul, para 2016; reservatório São Lourenço, para 2018. Com outras obras, seriam 25 metros cúbicos por segundo a mais, em quatro anos, atingindo quase 100 metros cúbicos.

“É muita coisa em muito pouco tempo e são coisas complexas. Que envolvem negociações. Olha, é um desafio para engenharia brasileira e pode significar a necessidade de um esforço de guerra”, afirma geólogo e mestre em Engenharia Civil Jerônimo Monticeli.

Os estudiosos não têm dúvidas: pelo seu tamanho e localização geográfica, São Paulo terá mesmo que buscar água cada vez mais longe. Uma solução de longo prazo seria o Rio Juquiá, no Vale do Ribeira. Obra demorada e muito cara, mas que dobraria a oferta de água para a Grande São Paulo.

“São Paulo não teve tanto problema nos últimos 40 ou 50 anos porque foi construído o Sistema Cantareira. Se não fosse esse sistema Cantareira nós estaríamos com carro-pipa hoje aqui em Sao Paulo”, diz Benedito Braga.

Fonte: G1

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