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Retorno das férias pode ser estopim para a depressão

Publicado em: 02/02/2015
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Sabe aquela ansiedade boa que aparece nas semanas que precedem as férias, e a impressão de que nestes dias o trabalho fica mais leve? Já sentiu o oposto, quando os 30 dias de descanso chegam ao fim? Uma certa angústia, desânimo e falta de energia inexplicável?

Segundo a psicóloga organizacional Valesca Passafaro, cerca de 35% dos trabalhadores apresentam sinais de depressão pós-férias. “Esse quadro é normal e muito comum na atualidade. A situação pode se agravar quando a pessoa já não se identifica mais com aquele ambiente de trabalho, ou com o convívio com os colegas de trabalho”.

Ela explica que a maioria dos profissionais que sofrem no retorno ao trabalho já havia mostrado algum tipo de insatisfação no trabalho, com o ambiente corporativo, colegas, estresse diário na realização da tarefa e com a falta de oportunidade de crescimento. “Podemos pensar que a volta ao trabalho desencadeará um processo depressivo no trabalhador.”

Trata-se de uma impossibilidade de sentir-se satisfeito com as mesmas circunstâncias, as quais vivenciava antes das férias. Diante disto, segundo Valesca, o sentimento é de “tortura”. “A situação fica preocupante quando evolui para o Transtorno de Humor Maior.”

Os sintomas podem ser físicos, emocionais e/ou comportamentais. Nos sintomas físicos podem ocorrer dores musculares, dores de cabeça, insônia ou sonolência excessiva, problemas gastrointestinais e extremo cansaço. Já nos sintomas comportamentais pode haver aumento ou diminuição significativa de comidas calóricas, aumento do consumo de bebidas alcoólicas, entre outras drogas. Emocionalmente, há diversos tipos de manifestações, como angústia, ansiedade, raiva, entre outros, conforme o International Stress Management Association, o Isma.

Valesca explica que as causas para a depressão pós-férias variam. Pode ser que o trabalhador esteja em um momento específico da vida em que gostaria de fazer outra coisa, tomar novos rumos diferentes na profissão, salário baixo e/ou desentendimento com os colegas de trabalho. “Em todos os casos, seja uma fantasia ou não, há desgaste emocional e a recusa em aceitar a realidade da volta ao mesmo ambiente.”

 

Em situações como esta, a recomendação da psicóloga é que se procure entender os motivos reais que levaram à depressão, que têm como gatilho a volta ao trabalho. Para ela, se há sofrimento só uma investigação ajudará a identificar quais fatores desencadearam tal circunstância, se é o ambiente, os colegas ou motivos pessoais. Nestes casos, a psicoterapia é indicada, e na maioria das vezes necessária.

Situações como esta também podem ser um indicativo de que é hora de mudar de trabalho. Se houver tristeza e sofrimento por motivos reais (clima ruim, insatisfação, desejo de mudança), vale a pena repensar o curso da vida profissional. “Deve haver muita cautela, pois não é bom pedir as contas sem ter outra coisa já em vista, ou seja, para isso é necessário planejamento. Tomar uma decisão errada durante a depressão pode piorar o quadro.”

Depressão x tristeza

Valesca esclarece que diferente da tristeza, que dura questão de dias, a depressão pós-férias dura cerca de duas semanas, podendo haver o agravamento do quadro para Transtorno de Humor Maior, o que impede o trabalhador de cumprir sua tarefa de maneira satisfatória. “Não dá para esperar passar esse tipo de transtorno somente com o esforço do colaborador. É preciso procurar ajuda psicoterápica e, se for o caso, entrar com medicação psiquiátrica.”

Ansiedade na volta é normal para quem adora o que faz

Na contramão da turma com depressão pós-férias estão os ansiosos para voltar ao trabalho. E se mesmo quem adora o que faz pode sentir um ‘baque’ ao retomar a rotina. Para esse pessoal o maior impacto é sair de férias.

Um desses worklovers (apaixonado pelo trabalho) é a professora de inglês e guia turística Bruna Gusmão. Ela se sente desconfortável nas férias, entediada e conta os dias para voltar às aulas. “Após uma semana de férias, me dá uma agonia, um desespero de ficar sem fazer nada e aí já fico com saudades do trabalho. Na volta estou sempre cheia de energia, empolgada e com o maior gás porque quando a gente fica longe dá mais valor às coisas pequenas do nosso dia a dia”.

Bruna sente falta de momentos como o café na copa, o bate-papo com os colegas, de dar risada e fazer piada uns com os outros. A única coisa ruim para ela é a readaptação do horário porque, se nas férias os horários de dormir e acordar são livres, quando retoma as atividades tem que se levantar diariamente às seis horas da manhã. “Eu não faço uma preparação para adaptar o meu organismo, na verdade tenho insônia por conta da ansiedade e também porque sempre preparo um doce para levar para a empresa como sinal de boas vindas aos alunos”, diz.

Nos primeiros dias, a orientação é não ficar parada, se não houver nada para fazer, Bruna encontra algo. “Geralmente no início do ano o trabalho sigo um ritmo mais devagar mesmo, então quando tenho uma hora vaga não fico sem fazer nada. Ou procuro algo diferente para fazer, ou saio pela fábrica onde leciono inglês e visito as salas para perguntar como foram as férias dos outros”, finaliza. – Juliana Fontanella

TRÊS PERGUNTAS AO DIRETOR DA ALVO CONSULTORIA… MARCELO ANTONIO

A maioria pega o ritmo entre três e cinco dias

O consultor e professor soma 29 anos de experiência na área trabalhista. Tem formação em Direito e Ciências Contábeis, especialista em Direito do Trabalho e Auditoria Trabalhista. Pós-graduado em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas com formação em Coaching Internacional e Análise Transacional.

1 A empresa pode realizar um planejamento de férias direcionado ao bem-estar do colaborador?
— “Sim, pode. Na verdade a saída para as férias é tão complexa quanto o retorno. Podemos comparar o organismo desse colaborador com um carro. Ao desligar um veículo, aparentemente ele deixou de funcionar, mas uma série de componentes continua funcionando. Quando saímos de férias, levamos alguns dias para relaxar porque ainda que estejamos cansados, estamos em um pico de produtividade. Assim, uma interrupção muito brusca pode não ser tão boa, mas uma transição planejada. Tem gente que só consegue entrar no clima de férias quando falta pouco para voltar”.

2 E quando chega a hora de retomar as atividades. Como as empresas e os gestores podem minimizar o risco de alguém ter depressão pós-férias?
— “Podem utilizar meios estratégicos para tornar a volta mais agradável. Uma tática utilizada por empresas com gestão de pessoas mais focada na qualidade de vida do funcionário é criar um ambiente mais acolhedor no retorno do colaborador. Implantamos algumas dessas medidas em uma empresa que está retornando das férias coletivas. Nós colocamos faixas de bem-vindos e preparamos dinâmicas especiais com a equipe, além disso os gestores foram preparados para adotar uma abordagem diferente nesses primeiros dias. Em lugar de reuniões tradicionais, por exemplo, eles fazem um bate-papo com a equipe, falando diretamente o que precisa ser ajustado. Os colaboradores recebem dicas para trabalhar melhor e mais rápido”.

3 Então existem recursos que podem minimizar o impacto do retorno das atividades?
— “Existem meios de criar estímulos para o colaborador. O organismo precisa de adrenalina para melhorar suas reações e um simples grito de guerra já é suficiente para garantir uma dose extra de energia. Acredito que o mais importante é que o gestor esteja atento à equipe, porque a maioria pega o ritmo entre três e cinco dias. O próprio funcionário se policia para entrar no pique. Começar os trabalhos em escalas produtivas em lugar de metas tradicionais também é uma boa estratégia, ao vencer tarefa por tarefa, as pessoas se sentem no controle e mais produtivas. A percepção é fundamental. Se uma pessoa sempre participativa e alegre volta de férias e mesmo depois da primeira semana continua cabisbaixa, provavelmente ela vai precisar de mais atenção porque pode estar sofrendo de depressão pós-férias”.

Fonte: O Diário – Fernanda Bertola

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