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Setores automotivo, de calçados e têxtil lideram melhora de exportações

Publicado em: 04/04/2016
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Muitas das indústrias que têm sobrevivido ao atual ciclo de recessão, marcado por uma retração forte da demanda doméstica, são aquelas que nos últimos meses conseguem direcionar parte de sua produção para o mercado externo. Setores como o têxtil, o de calçados e o automotivo, conforme os dados de volume da balança comercial, já conseguiram reverter a tendência negativa observada no ano passado – beneficiadas pelo nível ainda elevado de capacidade ociosa nas fábricas, que tem lhes permitido expandir os embarques sem realizar grandes investimentos.

Esse cenário começou a ser desenhado junto com o movimento de desvalorização do real em 2015, que deu maior competitividade aos preços dos produtos brasileiros, mas tem se materializado neste início de ano. Em fevereiro, o índice da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) que mede a quantidade exportada mostrou que 22 de 29 segmentos tinham resultado positivo no acumulado em 12 meses, contra nove em igual período do ano passado.

Além do nível de capacidade ociosa, o coeficiente de exportações, que mostra os ramos com maior presença no mercado internacional, sinalizam os setores com maior espaço para ampliar os embarques no curto e médio prazo – e aliviar os resultados ainda bastante negativos dos indicadores de produção.

A abertura dos números da Sondagem da Indústria da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, na média colhida entre dezembro e fevereiro, 11 dos 19 segmentos acompanhados trabalhavam com o nível de ociosidade pelo menos dois desvios padrão abaixo da média do nível de utilização da capacidade instalada (NUCI) dos últimos dez anos. Por ser uma medida de dispersão estatística, o chamado “NUCI normalizado”, explica o superintendente adjunto para ciclos econômico do Ibre/FGV, Aloísio Campelo, também responsável pela Sondagem, serve de parâmetro para identificar onde há maior potencial de crescimento da produção sem a necessidade de realização de grandes investimentos.

Outros cinco segmentos, ele destaca, têm coeficiente de exportação superior a dois dígitos – com mais de 10% da produção já direcionada para o setor externo, o potencial de ampliação das exportações também é maior, diz.

Após desvalorização de 42% do real em 2015 – parcialmente revertida neste primeiro trimestre, em que o cenário político tem influenciado as oscilações cambiais -, os sinais de melhora no ambiente para a exportação começam a aparecer, ressalta o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (IEDI).

Em fevereiro, depois de 17 meses de resultados negativos consecutivos, as exportações em valor cresceram em relação ao mesmo período do ano anterior, 10,38%, enquanto os embarques de manufaturados aumentaram 13,88%, a maior alta desde junho de 2013. Refletindo o cenário ainda bastante instável, entretanto, os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) divulgados na sexta-feira mostraram que parte dos ganhos foi revertida em março, quando as exportações recuaram 5,8% e as de manufaturados, 5,6%.

“O câmbio abre as portas e a recessão empurra [as empresas] para fora”, comenta Cagnin. O economista ressalta, contudo, que problemas estruturais e entraves à priori circunstanciais, como inflação elevada e aumento do custo de capital, corroem parte da vantagem que o dólar ainda tem dado às empresas. “Vai ampliar exportação quem for mais competitivo”, frisa.

Atualmente, os setores com melhores resultados são os de papel e celulose e o de produtos alimentícios, afirma o professor da FGV Nelson Marconi, com base nas variações do índice de quantum da Funcex acumulado na série do acumulada em 12 meses. O primeiro exportou em fevereiro 12,5% mais do que nos 12 meses até fevereiro de 2015, o melhor resultado desde julho de 2010. O ramo de alimentos, por sua vez, reverteu em novembro a tendência negativa da curva e conseguiu exportar, em volume, 6,4% mais do que no período anterior.

Os segmentos têxtil, calçadista e o de produtos de madeira, em sua avaliação, também devem conseguir ampliar as exportações neste ano. Em fevereiro, o primeiro acelerou o aumento do seu índice de quantum pelo terceiro mês consecutivo, para 9,8% no acumulado em 12 meses. O ramo de calçados, na mesma comparação, registrou alta de 2% no período, o primeiro resultado positivo depois de 13 meses seguidos de queda.

“O setor automotivo está virando rapidamente”, acrescenta, fazendo referência aos resultados positivos dos segmentos de veículos – que transformou a retração de 9% em outubro em alta de 11,8% em fevereiro, e o de outros equipamentos de transporte. Na outra ponta, observa, a indústria farmacêutica, bastante dependente de insumos importados, vem aprofundando os resultados negativos.

Marconi pondera que, apesar da tendência positiva sinalizada para as exportações em volume, a produção ainda tem longo caminho até a retomada. Em fevereiro, a atividade nas 25 indústrias acompanhadas pela Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE seguiam negativas no acumulado em 12 meses. Depois de avançar em janeiro 0,4%, na comparação com o mês imediatamente anterior, feito o ajuste sazonal, encolheu expressivos 2,5%. Na comparação com fevereiro de 2015, o tombo foi de 9,8%. “O setor externo deve apenas amenizar essas quedas”.

Ainda assim, o ritmo de aceleração das exportações de manufaturados no primeiro bimestre pode ser comprometido pelo movimento recente de valorização do real, ressalta Campelo. “O problema maior é a volatilidade”, completa, ponderando que a dificuldade de previsão do comportamento da moeda brasileira no médio prazo atrapalha as negociações das empresas com os clientes externos.

Fonte: Valor Econômico

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